O Brasil é dependente do Neymar?

Ontem a seleção brasileira sofreu uma derrota para Camarões em sua última partida da fase de grupos da Copa. Depois do jogo, muita gente tem feito vários comentários sobre a atuação, sendo muitos negativos e alguns que ganharam especial evidência apontavam que a derrota demonstrava que a seleção seria muito dependente do Neymar que não estava em campo devido a uma lesão sofrida duas partidas antes.
Antes de começarmos a olhar para os números, vale lembrar que foi uma partida onde todo o time titular foi poupado e que Neymar já havia ficado de fora na vitória contra a Suíça, fatos que geram uma certa estranheza de as pessoas apontarem específicamente a ausência do Neymar como motivo da derrota. Além disso, vale destacar que o Brasil no geral teve uma boa atuação, apesar da derrota. Inclusive, a seleção foi superior à Camarões, gerando uma probabilidade de vitória total de 37% contra 31% de seus adversários (essa probabilidade total já engloba todos os fatores individuais, táticos e de relações entre os jogadores).
Entrando em mais detalhes da partida, vemos que o Brasil assim como em outras partidas teve grande parte de seu desempenho vindo dos aspectos táticos da equipe, ou seja, a seleção se destaca quando olhamos a chance de vitória acrescentada devido à forma de jogo. Tal eficiência tática já começa a dar primeiros indícios de resposta sobre a suposta dependência do Neymar, pois uma vez que suas táticas acrescentam muita chance de vitória ao time, qualquer jogador tende a entregar resultados elevados por estar sendo usado de forma a extrair o máximo de seu potencial. Isso fica evidente quando observamos a chance de vitória acrescentada pela performance individual dos jogadores. Essa métrica nos mostra o quanto as chances de vitória de um time aumentam porque era um determinado jogador que estava em campo ao invés de um outro qualquer de nível médio. Na seleção brasileira, ao longo de todos os três jogos até aqui teve por essa métrica resultados individuais não muito altos, indicando que no geral as performances individuais não se destacaram tanto e em muitos casos até os jogadores poderiam ter sido substituídos sem grandes prejuízos. O Brazil ocupa a 11ª posição em performances individuais, enquanto está em 6° quando o assunto é o aspecto tático, resultando em um 10° lugar em chance de vitória total por partida.
Agora entrando especificamente na questão do Neymar, com certeza ele chegou para a Copa como o principal nome da seleção, líder em performance individual com +72% de chances de vitória acrescentados por jogo quando comparado a um jogador médio. No entanto, esses números vieram em um contexto muito diferente de uma Copa do Mundo e por causa da lesão não temos tanto parâmetro para saber o nível em que ele estaria jogando. Na única partida que disputou, Neymar esteve praticamente no nível de um jogador médio de Copa do mundo, na verdade até ligeiramente abaixo, entregando -3% de chances de vitória contra a Sérvia, fazendo com que ficasse 13% abaixo das expectativas considerando o estilo de jogo e sua função na seleção. Isso não significa que ele não seja um jogador importante, afinal estamos falando de um único jogo e tiveram outros pontos positivos como bons resultados no aspecto ofensivo, justamente o ponto onde a seleção vem tendo piores resultados.
No fim das contas, a leitura que fazemos é que essa seleção atual não é dependente do Neymar, apesar de que ele é um de seus principais jogadores. A grande força da seleção nessa Copa tem sido um time bem montado taticamente, o que favorece performances coletivas ao invés de individuais. Portanto, o Neymar pode ser aquele algo a mais que faz falta as vezes, mas o Brasil tem sim recursos para vencer mesmo sem ele.